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Bahia está com negociação avançada com o grupo City e pode se tornar SAF para receber investimento

Vista como tábua de salvação, SAF pode apresentar riscos; no Bahia, Grupo City está próximo de fechar compra do departamento de futebol

Bahia está com negociação avançada com o grupo City e pode se tornar SAF para receber investimento
Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia

Uma sigla de três letras não sai da cabeça dos torcedores nos últimos tempos: SAF. É  a  tal  da  Sociedade  Anônima  do  Futebol  criada pela Lei 14.193/2021, promulgada em agosto do ano passado.

A  lei  criou  novas  regras  para  os  clubes  se tornarem empresa e oferecer segurança  jurídica  para  atrair  investidores  que,  ao  se tornarem sócios majoritários, passam a comandar o departamento de futebol.

Botafogo e Cruzeiro venderam 90% da SAF  por  R$  400  milhões  e  foram  os  primeiros  clubes  brasileiros  a  se  tornarem  empresa sob o novo modelo. O Vasco também  aguarda  aprovação  interna  para  se  transformar em SAF e vender 70% de suas ações em troca do investimento de R$ 700 milhões no período de quatro anos.

O  assunto  também  ocupa  as  rodas  de  conversa  dos  torcedores  do  Bahia.  O  presidente  Guilherme  Bellintani  confirmou que  dois  grupos  já  procuraram  o  tricolor,  mas não confirmou os nomes. Para fechar a  parceria,  porém,  o  clube  vai  precisar  se  transformar no novo modelo.

O torcedor vai decidir se quer esse destino  ou  não  para  a  instituição.  O  conselho  deliberativo e a assembleia geral de sócios precisam aprovar a mudança.

O Jornal da Metropole apurou que o City Football Group negocia com o Bahia. Os investidores  do  grupo  empresarial  também  possuem participação no fundo de investimentos dos Emirados Árabes, que adquiriu em dezembro passado a Refinaria Landul-pho  Alves,  em  São  Francisco  do  Conde,  na  Grande  Salvador.  A  negociação  está  avançada,   mas   ainda   haverá   uma   discussão   interna  no  clube  para  aprovar  a  proposta.  Esse  processo  deve  levar  cerca  de  três  a  quatro meses.

A  negociação  entre  o  City  Group  e  o  Bahia cria uma sinergia em termos de promoção e marketing com a Acelen, empresa criada pelo fundo Mubadala para operar a refinaria. “Os árabes usam muito o chamado ‘sportwashing’, que é o investimento em clubes  populares  para  construção/melhora da imagem”, explica a fonte ouvida pela reportagem, em anonimato.

A  Acelen  já  enfrenta  resistências  na Bahia  por  causa  dos  cinco  aumentos  no  preço  dos  combustíveis  nos  primeiros  60  dias do ano.

O  City  Group  tem  participação  em  outros 15 clubes espalhados pelo mundo. Dois deles  estão  na  América  do  Sul:  o  Montevideo City Torque, do Uruguai, e o Clube Bolívar, da Bolívia.

No Vitória, o assunto ainda não está em pauta. Segundo o presidente Fábio Mota, o plano é subir para a Série B para valorizar a marca e depois discutir a SAF.

“Temos  que  subir  para  pensar  em  uma  solução  de  investimento.  Vamos  contratar uma empresa para fazer esse diagnóstico do clube, para depois discutir a SAF no conselho (deliberativo) e com os sócios”, afirma.

Especialistas  em  direito  esportivo  listam pontos positivos e negativos do modelo da SAF. Para o advogado Milton Jordão, o ponto a favor é a chance maior de captação de  recursos.  O  negativo  é  a  concentração  de  poder.  “A  SAF  concentra  o  poder  em  uma pessoa. No clube tradicional, o poder é mais difuso com a participação do conselho deliberativo, da torcida. Cada clube precisa  avaliar  dentro  de  sua  realidade  qual  modelo adotar”, explica.

O  advogado  Cristiano  Possídio  acredita  que  a  lei  da  SAF  pode  aquecer  o  mercado  do  futebol  brasileiro,  trazendo  uma  possibilidade  de  salários  adequados  e  investimento nas divisões de base. No entanto, ele ressalta que a profissionalização do futebol depende de cada gestão.

EXPERIÊNCIAS NEGATIVAS

A dupla Ba-Vi se tornou clube empresa no final da década de 1990. Após um ano, os  investidores  decidiram  passar  a  administração do departamento de futebol para os dirigentes dos clubes.

Em  2004,  o  Vitória  comprou  51%  das ações que haviam sido adquiridas pelo grupo Excel. Já o Bahia procurou o banco Opportunity para dar fim ao contrato em 2006.

Até hoje há um processo judicial se arrastando no qual o antigo investidor cobra R$ 100 milhões  ao  Esporte  Clube  Bahia  por  descumprimento do acordo firmado em 2006. O apor-te inicial do banco foi de R$ 12 milhões à época.

Os   advogados   ouvidos   pela   reportagem   contam que o cenário legal atualmente é diferente com a SAF. “A grande diferença é que hoje tem  uma  lei  específica  que  mergulha  no  assunto. A lei da SAF está tratando certos problemas, estabelece como fica a associação esportiva, os símbolos, o pagamento dos credores, a tributação, enfim, a lei discrimina cada ponto”, explica Milton Jordão.

O  advogado  e  conselheiro  membro  da  comissão que discute a SAF no Bahia, Vicente Pithon, argumenta que, além do ordenamento jurídico atual ser diferente, o contrato feito pelo grupo que controlava o tricolor na época não   tinha   transparência.   “Havia   condições   que não foram discutidas no conselho, que se mostraram bastante ruins depois”, explica.

Pithon  afirma  que,  quando  for  colocada uma proposta na mesa, o conselho deliberativo do Bahia vai ter acesso a 100% do contrato para discutílo.

“Qualquer negócio envolve risco. O que se tenta é construir um contrato que te proteja. O risco é da natureza do negócio. Um bom contrato  pode  estabelecer  mecanismos  de  proteção”, afirma.

No entanto, independente do tipo de contrato,  passam  automaticamente  para  a  SAF  os  direitos  federativos  dos  jogadores  e  os demais contratos esportivos, a exemplo dos direitos  de  transmissão  das  partidas  —  ambas  são  as  principais  receitas  dos  clubes  de  futebol no Brasil.

“A  SAF  é  um  caminho  que  pode  ser  sem  volta, por isso precisa ser bem pensada. Não é uma brincadeira. O investidor vai ter acesso às  competições  e  às  verbas  do  departamento  de futebol. Não é o único caminho para se tornar mais competitivo, mas é uma alternativa”, ressalta Milton Jordão.

Possídio aponta que a SAF tem se apresentado como a única alternativa para alguns clubes superendividados se reerguerem, como é o caso do Cruzeiro, Botafogo e Vasco.

Virar empresa, porém, não é garantia de sucesso esportivo. “É necessário ter um projeto bem elaborado, sério, com reconhecimento dos débitos, criar um plano de aprovação para todos  os  credores  e  buscar  um  player  (investidor) que tenha vinculação, conhecimento do mercado de futebol para que as coisas fluam bem entre o clube e a empresa”, enumera.

Crédito: Metro1

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