Parte da bancada de jurados do Troféu ‘Axé – Canto do Povo de um Lugar’, explica os atributos que uma música precisa ter para cair na graça da galera durante a folia
Os clássicos são sempre empolgantes, isso é verdade. Difícil – para não dizer impossível – encontrar alguém que não se arrepie ao ouvir a voz de Saulo Fernandes cantando “Olha bem, meu amor, é o final da odisséia terrestre”, ou que não cante junto o irresistível refrão o “Eu falei Faraó”. Mas é só a folia pensar em mostrar as caras que uma pergunta já surge em qualquer conversa: qual a música do Carnaval deste ano? Desde que a folia é a folia, todo ano um hit novo é eleito pela galera como o mais marcante do período. Mas a pergunta que inquieta cantores, compositores e o próprio folião é: o que faz uma música ser o hit do Carnaval?
Neste ano, quem for a algum dos circuitos do Carnaval soteropolitano já pode se preparar para ouvir incontáveis vezes “Macetando” de Ivete Sangalo e Ludmilla; ou para aprender a coreografia de “Perna Bamba”, uma parceria entre Leo Santana e Tony Sales, do Parangolé; vai também curtir “Descontrolada”, de Xanddy Harmonia com, novamente, Leo Santana. É uma lista de opções, que não se resumem ao axé music ou ao pagode baiano. E todas com chances reais de serem premiadas. Anos atrás, músicas de gêneros que fogem um pouco do que seria um “ritmo de Carnaval” levaram o prêmio, como “Jennifer”, do cantor Gabriel Diniz.
Para responder à pergunta sobre o que faz uma música ser escolhida como o hit do Carnaval, o Metro1 convocou parte da bancada que irá decidir, junto com o público, quem ganha o Troféu ‘Axé – Canto do Povo de um Lugar‘, premiação do Grupo Metropole ao lado da produtora Macaco Gordo. A equipe também vai votar nas categorias de Artista Revelação e Conjunto da Obra no Carnaval.
Produtora cultural e diretora da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), Piti Canella é uma das juradas. Ela é direta em sua opinião: para que uma música seja o hit, ela tem que estar na boca do povo. “Se desligar o trio, a rua inteira canta. Eu acredito que a música, mesmo com investimento, precisa colar no ouvido, no corpo. Tem que nos fazer ter vontade de dançar, mesmo sem gostar da letra ou do ritmo”, aponta. Para Piti, isso continua mesmo com a influência das redes sociais e das dancinhas nos vídeos curtos, até porque há um trabalho pesado de investimento dos artistas nas redes.
Já para o Maestro Fred Dantas, o que faz a música ganhar o pódio é o refrão chiclete aliado ao ritmo da moda. Depois disso tudo, estar nos meios de comunicação também faz, segundo Fred, toda diferença. Isso porque eles têm o poder de ficar “batucando” as músicas na mente do público. Mas o maestro também não deixa de lado a força das dancinhas e coreografias. “Tudo isso faz com que o Carnaval da Bahia seja uma maravilha”, diz.
Andrezão Simões, cantor e compositor, não poderia discordar. “É a divulgação aliada a um componente incontrolável de como a sua arte oferecida será sentida pelas pessoas, o famoso borogodó”, avalia. Para ele, o que diferencia é o conjunto de um trabalho excepcional feito por hitmakers e compositores, que têm a capacidade de interpretar o espírito de seu tempo e traduzi-lo em canções, junto com músicos e arranjadores que transformam letra e música em linguagem musical.
De lá para cá… como estamos?
Mas uma coisa é certa: o que faz sucesso hoje em dia é muito diferente do que fazia sucesso antigamente. Até a música do Carnaval passado poderia não ser um hit neste ano. O próprio Fred Dantas aponta que uma das grandes diferenças na folia de décadas passadas era que a música do Carnaval surgia dentro da própria festa. Um exemplo é “Protesto do Olodum”, que foi tocada pela primeira vez durante o período carnavalesco. “Quando essa coisa se tornou capitalizada pela mainstream, as músicas começaram a ser pré-fabricadas”, aponta o maestro.
Andrezão concorda e defende que, se uma música for lançada durante o Carnaval, ela quase não tem chance de se tornar um hit da folia. “Uma boa diferença entre os tempos é que o Carnaval era, por si só, um fenômeno cultural que aclamava canções sem tanta anterioridade de divulgação. Com a fragmentação da atenção, por diversas razões, entre elas a potente web, a anterioridade da divulgação quase extinguiu a música que surge no Carnaval e ganha a atenção das massas”, afirma.
Crédito: Metro1