Ninguém quer pegar o coronavírus, mas um estudo apontou que 20% da população de Salvador já contraiu o vírus, e muita gente nem soube. O relatório epidemiológico foi encomendado pela prefeitura à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e os resultados da primeira fase foram apresentados nesta segunda-feira (25).
De maneira objetiva, o estudo revelou que apesar do número de pessoas diagnosticadas com a doença em Salvador estar na casa dos 122 mil, a quantidade real é bem maior. Equipes estiveram em bairros dos 12 distritos sanitários da capital, visitaram 2.558 domicílios e fizeram cerca de 400 entrevistas presenciais.
Eles fizeram 2.970 testes, e identificaram 604 pessoas com anticorpos IgG (já teve o coronavírus) e IgM (foi diagnosticado com a doença no momento do exame). O prefeito Bruno Reis foi quem apresentou os dados e disse que os resultados foram obtidos através de uma pesquisa por amostragem. A estimativa é de que 20% dos 3 milhões de habitantes da capital já tiveram a doença, cerca de 600 mil pessoas.
“Desde o início da pandemia sentíamos a necessidade de ter um dado sobre a quantidade de pessoas que já havia contraído o vírus em nossa cidade. A gente se baseou na ocupação de leitos e no número de óbitos diários [para tomada de decisões]. Sempre que a gente ampliava o número de testes aumentava o número de infectados, mas a gente ainda não tinha uma amostragem da cidade toda, um estudo que pudesse estimar quantas pessoas já tinha contraído o vírus”, contou.
A parceria com a Fiocruz surgiu nesse sentido. Segundo o prefeito, através da análise desses dados será possível identificar qual parte da população está imunizada, ainda que provisoriamente, e quais decisões precisam ser tomadas. O estudo é dividido em fases, e vai avaliar a capacidade de resposta dos indivíduos à doença.
Bairros
A pesquisa também conseguiu identificar os bairros onde a população foi mais infectada. Os distritos sanitários de Itapagipe e Liberdade lideram o ranking. Segundo o estudo, 29% dos moradores de cada uma dessas regiões já tiveram a doença, com sintomas ou não. Em seguida aparece São Caetano (26%), Cajazeiras (25%) e Itapuã (22%). Confira a tabela completa abaixo.
A dona de casa Iolanda Assis, 56 anos, mora no bairro de Paripe, no Subúrbio Ferroviário. A região é a menos infectada até o momento. “Eu fico até surpresa em saber disso porque nem todo mundo está respeitando o isolamento. Tem muita gente se aglomerando sem necessidade, mas na rua onde moro tem muita gente consciente também”, contou.
Para o prefeito o fato dos números estarem baixo no Subúrbio não é motivo para comemorar. Ele voltou a frisar sobre a necessidade de evitar aglomerações, usar máscara, e higienizar as mãos com frequência, seja com álcool em gel ou com água e sabão.
“No Subúrbio 9% da população contraiu o coronavírus, ou seja, 91% das pessoas ainda não foram infectadas. Esse é um número preocupante tendo em vista que o Subúrbio é uma região que tem a concentração populacional maior, com maior número de habitantes por casa, e onde as casas estão mais próximas umas das outras, ou seja, uma região mais difícil de fazer o isolamento social”, contou.
Metodologia
O relatório foi construído através de uma parceria entre a prefeitura e a Fundação Oswaldo Cruz. O Município forneceu pessoal, veículos, e testes para covid, entre outros recursos, enquanto a Fiocruz entrou com a análise dos dados colhidos, e com suporte técnico e científico.
O estudo tem quatro objetivos. Estimar a quantidade de soteropolitanos com anticorpos para o vírus, avaliar a duração dos anticorpos nessas pessoas, determinar o percentual de assintomáticos ou subclínicas, e analisar os aspectos sociodemográficos da doença.
Na prática, os pesquisadores vão acompanhar para saber por quanto tempo uma pessoa terá o IgG positivo, e para isso o estudo foi dividido em quatro etapas. Na primeira fase os intervalos entre os testes serão de 30 dias. O primeiro foi apresentado nesta segunda-feira (25). Haverá outros três. Já na segunda fase os intervalos serão de 180 dias.
Confira o ranking das regiões mais infectadas de Salvador:
Itapagipe (29%)
Liberdade (29%)
São Caetano (26%)
Cajazeiras (25%)
Itapuã (22%)
Boca do Rio (21%)
Cabula (19%)
Pau da Lima (17%)
Brotas (16%)
Centro Histórico (15%)
Barra/ Rio Vermelho (12%)
Subúrbio (9%)
Crédito: Correio 24 horas